domingo, 22 de janeiro de 2012

O tiranossauro rex do sitio do Cafundó

Exemplar de cica plantada no Sítio do Cafundó
Faz 25 anos que ganhei de um velho japonês,  a quem jamais conheci,  muda de uma planta chamada cica. Esse senhor, homem da terra e pai de Kazuko,  grande  amiga de minha irmã, ficou sabendo  que eu era jornalista e escrevia sobre agricultura. Então, para mostrar gratidão a quem se dedicava à defesa das coisas rurais, mandou a planta de presente. E com ela vieram muitas recomendações, pois não era uma “uma qualquer”: a cica-mãe tinha migrado para o Brasil com o japonês diretamente da ilha de Okinawa , no Japão, no pós guerra.


Gostei da cica e da história. Então, plantei-a no sitio, aqui em Sorocaba, e ela, valente,  prosperou e produziu rebentos em solo e clima que nada se assemelham à longínqua ilha nipônica.  Em seguida, por curiosidade, mergulhei nos livros  e fiquei sabendo que as cicas são plantas jurássicas, que acompanham a evolução da terra desde  270 milhões de anos. Cheguei a imaginar como seria o Sítio do Cafundó,  há  milhões de anos, numa Sorocaba arqueozóica,   quando, em vez das atuais rolinhas, joões-de-barro  e sabiás,  havia  mega- répteis passeando entre cicas. 


Mas, como diria minha avó Valdomira – Dona  Miroca, para os íntimos –: O que é bom dura pouco!  Descubro agora que fui enganado, induzido a erro crasso  nesses 25 anos. Tudo o que contei para os amigos a respeito da importância multimilenar de minhas cicas não passou de balela, assanhamento científico, mentira deslavada.


Vejam o que acabo de ler: “Qualquer paisagem com dinossauros não fica completa sem as cicas. No mesmo período em que esses répteis se agigantaram, essas plantas, fisicamente semelhantes às palmeiras, mas aparentadas dos pinheiros, dominaram a paisagem do planeta.  Registros fósseis mostram que as cicas surgiram há 270 milhões de anos e são tidas como fósseis vivos. Ou melhor, eram. Um estudo de uma equipe internacional que contou com a participação de um pesquisador brasileiro – tinha de ter um brasileiro - acaba de mudar radicalmente o rumo dessa história”. 

Essa punhalada traiçoeira em meu saber foi dada pela Revista Pesquisa Fapesp que teve a petulância de publicar em sua edição deste chuvoso  janeiro de 2012, artigo com o seguinte título: Uma planta enganadora.


 Pasmem: com base em exames genéticos sofisticados -  maldito DNA! – a revista informa que as cicas jamais ornaram o ambiente dos dinossauros. Tudo o que se estudou com base em fósseis vegetais estava errado. As cicas não existiam há 270 milhões de anos e sim, surgiram na face da terra a apenas 10 milhões de anos.  E pior: já quase foram extintas uma vez e, segundo a bióloga alemã  Suzanne Renner, da Universidade de Munique,    “a atual diversificação das cicas parece estar diminuindo, e sua recente evolução provavelmente não é garantia contra a próxima onda de extinções”. 


A mim só resta agora dar um brado de “Salvem as cicas! que, coitadas, têm apenas 10 milhões de anos e não 270 milhões . Além disso, quero  publicamente pedir desculpas a amigos e familiares a quem induzi a acreditar que, um dia, há milênios, a tata-tataravó da minha cica tinha prazerosamente recebido uma lambida de  tiranossauro- rex, aquele mesmo que hoje, literalmente, apavora mocinhas nos filmes de histórias jurássicas.